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Josué de Castro

Josué Apolônio de Castro, nascido em 5 de setembro de 1908 em Recife (PE), foi um homem de múltiplas atividades: intelectual, político, nutrólogo, cientista social e intérprete do Brasil. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil em 1929 e em Filosofia pela Faculdade Nacional de Filosofia em 1938, escreveu obras de fundamental importância para a análise das questões sociais do Brasil. Os conceitos e ideias presentes em sua obra configuram significativos parâmetros para se pensar a fome e exclusão social, chagas detectadas pelo pensador que continuam presentes no cotidiano brasileiro. A longevidade de suas ideias relaciona-se diretamente ao homem público Josué de Castro, que exerceu diversos cargos executivos no Estado, como coordenador de campanhas, deputado, diretor da Food and Agriculture Organization of the United Nation (FAO), escritor e romancista. Sendo um homem de ideias e de ações, conciliou intensa atuação política e intelectual ao longo de sua trajetória.

Suas reflexões sobre a fome no Brasil foram fundamentais para a elaboração e execução de planos que buscavam solucionar este problema. Josué, assim como muitos homens de seu tempo, acreditava que as ferramentas disponíveis no momento seriam suficientes para resolver a má situação alimentar brasileira. Sua ascensão política esteve intimamente relacionada à emergência e institucionalização da nutrição nos anos 1930. Influenciado pelos estudos do médico argentino Pedro Escudero, teve como uma de suas questões a elaboração de um regime alimentar “racional”. Junto com Dante Costa, Jamesson Lima e Orlando Parahym, fez parte da primeira geração de médicos nutrólogos que problematizou a dieta dos sertanejos, demonstrando o valor nutritivo de alimentos regionais e do estudo dos hábitos desses homens. Todos produzidos a partir de inquéritos nutricionais publicados em revistas especializadas, os Arquivos Brasileiros de Nutrição, que teve Josué como um de seus diretores. Estes estudos colaboraram para o estabelecimento da ração essencial mínima, servindo de base para a regulamentação da lei do salário mínimo, em 1938.

Uma das originalidades do pensamento do autor reside na perspectiva integrada de conhecimentos para a abordagem da fome. A tese do “mal da fome não da raça”, descrita em Alimentação e Raça, de 1936, é um exemplo disso. Ao invés de se restringir à microbiologia e às pesquisas epidemiológicas, Castro buscou integrar as ciências sociais, em especial a Geografia, em seu horizonte teórico. A ideia da fome com causas biológicas, econômicas e sociais foi o constructo que guiou seu exame da sociedade na qual a fome se produzia e se mantinha, tendo consequências significativas para as características do Brasil como país e nação. Uma de suas influências foi do geógrafo francês Vidal de La Blache, para quem haveria uma interação entre os dados físicos e o homem. Dessa forma, na tentativa de explicitar as conexões entre a dimensão fisiológica da nutrição humana e as características da organização social, Josué de Castro relacionou a fome ao processo de desenvolvimento do país. Assim como os pensadores brasileiros dos anos 1950, o nutrólogo buscou enxergar as raízes do atraso e, por meio de seu diagnóstico, construir um futuro, buscando assim uma ruptura com o passado monocultor e latifundiário do Brasil. Há, nos escritos de Castro, concepções características do pensamento nacional-desenvolvimentista, influenciado pelas concepções de Raul Prebisch e de Celso Furtado. Para Josué, o subdesenvolvimento não era insuficiência ou ausência de desenvolvimento, mas sim, um produto ou um subproduto do desenvolvimento, uma derivação inevitável da exploração econômica neocolonial. Entre artigos, livros, romances e poesias, a produção intelectual de Josué de Castro, mesmo que dedicada em grande parte à questão da fome, é bastante diversificada, tendo como cerne o debate sobre a sociedade brasileira. Seu livro mais reeditado é Geografia da Fome (1946), que foi traduzido para vários idiomas. Na obra, introduz os conceitos de áreas alimentares, áreas de fome endêmica, áreas de fome epidêmica, áreas de subnutrição, e, por fim, o mosaico alimentar brasileiro, traçando assim o primeiro mapa da fome no país.

Junto à produção acadêmica, foi professor de Fisiologia da Faculdade de Medicina do Recife (1932), de Geografia Humana da Faculdade de Ciências Sociais do Recife (1933) e de Antropologia Física da Universidade do Distrito Federal, atual UFRJ, em 1938. Exerceu cargos diretivos em diversas instituições, elaborando políticas de combate à fome no país e no mundo. Destacam-se: diretor do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), chefe do Serviço Técnico de Alimentação Nacional (STAN), diretor do Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil (INUB), presidente executivo do conselho da FAO e fundador da Associação Mundial de Luta Contra a Fome (ASCOFAM). Fundou e presidiu o Centro Internacional para o Desenvolvimento (CID), entre 1965 e 1973. Por fim, foi indicado ao prêmio Nobel da Paz em 1953, 1963 e 1964.

Josué de Castro foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTB) para duas legislaturas: 1955-1959 e 1959-1963. Essa última interrompida em outubro do último ano, quando renunciou ao mandato para exercer o cargo de representante das Nações Unidas em Genebra. Entre as principais bandeiras levantadas por ele estavam a reforma agrária, as reformas de base e o combate à fome. Participou ativamente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e defendeu as reformas de base. Durante a atividade parlamentar, discursou sobre política internacional, reforçando as “batalhas anti-imperialistas” e apoiou as lutas coloniais de libertação e revoluções populares.

Após o golpe civil-militar de 1964, foi institucionalizado o Ato Institucional nº 1, que representou a cassação de mandato e de direitos políticos de diversos políticos e intelectuais brasileiros; dentre eles, Celso Furtado, Josué de Castro, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola. Impedido de retornar ao país, mudou-se para Paris, onde manteve intensa atividade política e intelectual. Publicou livros, artigos, proferiu discursos e colaborou na fundação do Instituto de Formação Humana e Pesquisa da ONU. Faleceu na capital francesa em 24 de setembro de 1973.

Em 2014, a FAO lançou o relatório de insegurança alimentar, onde avaliou o desempenho dos países integrantes quanto às metas do milênio e da Conferência Mundial de Alimentação. Pela primeira vez desde o início dos levantamentos, o Brasil apareceu fora do “Mapa da Fome”. A intensa atuação de Josué de Castro é parte importante desta conquista.

Sugestões de Leitura:
BIZZO, Maria Letícia Galluzzi. Agências Internacionais e Agenda Local: atores e ideias na interlocução entre nutrição e país (1932-1964). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde).Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, Casa de Oswaldo Cruz, 2011.
CASTRO, Anna Maria (org.). Fome – um tema proibido: últimos escritos de Josué de Castro. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 2003.
LIMA, Eronildes da Silva. Mal de Fome e não de Raça: Gênese, constituição e ação política da educação alimentar no Brasil (1934-1936). Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2000.
MAGALHÃES, Rosana. Fome: uma (re)leitura de Josué de Castro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1997.
MENEZES, Anna Waleska Nobre Cunha. Os Embates entre ciência e política na Experiência Parlamentar de Josué de Castro. Tese de Doutorado apresentada à Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio grande do Norte. Natal, 2012.
MUNIZ, Érico Silva Alves. Comida, trabalho e assistência social: a alimentação na agenda política brasileira (1939-1947). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde). Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, Casa de Oswaldo Cruz, 2014.