Sérgio Buarque de Holanda é mais conhecido por Raízes do Brasil, publicado em 1936. Contudo, o autor publicou outros livros importantes em seguida, como Monções, de 1945, Caminhos e Fronteiras, 1957, Visão do Paraíso, 1959, e Do Império a República, 1972. E, antes, havia publicado, em jornais e revistas, diversos artigos de crítica literária e de intervenção cultural, assim como continuou a fazê-lo até quase o fim da vida. O autor pode ser considerado um “homem ponte” entre gerações. De fato, nascido em São Paulo no ano de 1902 e falecido em 1982, Sérgio Buarque participou de forma efetiva de diferentes capítulos da vida intelectual, cultural e política do país no século XX, como do modernismo, da crítica literária em jornais e da produção intelectual universitária.
Embora ausente da Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, pois então estudava na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, Sérgio Buarque participa ativamente do movimento, editando, junto com Prudente de Morais, Neto, a Revista Estética, porta-voz do movimento entre 1924 e 1925. Em outubro de 1926, publica o artigo “O lado oposto e outros lados”, em que explicita as divisões internas do que, até então, parecia uma frente única contra o passadismo. Retira-se das polêmicas vivendo alguns meses no interior do Espírito Santo e, em 1927, retorna ao Rio. Em junho de 1929, parte para a Alemanha como correspondente dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, acompanhando os anos agitados da República de Weimar e entrevendo o crescimento do movimento nazista. O ano e meio passado na Alemanha é crucial para a sua formação, estudando autores como Friedrich Meinecke, Ludwig Klages, Ernst Kantorowicz, Werner Sombart e Max Weber. Retorna ao Brasil em janeiro de 1931 e acaba por publicar, em 1936, Raízes do Brasil, livro sobre os dilemas da modernização brasileira. No mesmo ano, torna-se professor da recém criada Universidade do Distrito Federal, instituição concebida por Anísio Teixeira. A UDF é extinta em 1939 e, em seguida, Holanda trabalha no Instituto Nacional do Livro e na Biblioteca Nacional. Era o período do Estado Novo, iniciado em 1937, marcado pelo autoritarismo e, ao mesmo tempo, pela criação de órgãos de cultura e incorporação de intelectuais em seus quadros. Em 1940, Holanda retoma suas atividades como crítico literário. Boa parte dos artigos publicados na imprensa é reunida, em 1944, no livro Cobra de Vidro. Neste momento, dedica-se à história da expansão do país para o Oeste. Daí resulta Monções, publicado em 1945. Em 1946, depois do fim do Estado Novo no ano anterior, retorna a sua cidade natal para integrar o Museu Paulista, do qual torna-se seu diretor. Permanece no Museu durante dez anos, ao mesmo tempo em que leciona na Escola Livre de Sociologia e Política. A seguir, em 1957, reúne os artigos esparsos sobre os bandeirantes e tropeiros, constituindo Caminhos e Fronteiras. No momento desta publicação, está se preparando para prestar o concurso para a cátedra de História da Civilização Brasileira da Universidade de São Paulo e, para tanto, redige uma tese sobre os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. Visão do Paraíso é defendida em fins de 1958 para a obtenção da cátedra e, no ano seguinte, torna-se livro pela Editora José Olympio. A partir de 1960, coordena o projeto da coleção História Geral da Civilização Brasileira. Na USP, além de lecionar e orientar alunos de pós-graduação, cria, em 1962, o Instituto de Estudos Brasileiros, um centro que integra acervo, pesquisa e ensino. Aposenta-se em 1969, em solidariedade aos professores afastados pelo AI-5, baixado pelo regime militar no ano anterior. Permanece até 1977 na direção da HGCB, coordenando 7 volumes, que cobrem desde o período colonial até o fim da monarquia. Para a coleção, publica, em 1972, Do Império à República, um volume de sua inteira autoria que acompanha a dissolução do Império. Em 1979, reúne no livro Tentativas de Mitologia artigos de crítica histórico-sociológica e de crítica literária redigidos em fins da década de 1940 e início da seguinte para jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em 1980, participa da fundação do PT. Após sua morte, em 1982, ainda foram encontrados manuscritos inéditos. Em 1986, é publicado Extremo Oeste, uma espécie de continuação de Caminhos e Fronteiras, e, em 1991, sob o título de Capítulos de Literatura Colonial, são publicados novos estudos sobre o Barroco e o Arcadismo. Hoje, a vasta produção do autor é acessível, pois, além dos seus livros, os escritos dispersos em jornais encontram-se organizados em volumes, como O Espírito e a Letra (Org. Antonio Arnoni Prado, 1996) e Sérgio Buarque de Holanda: escritos coligidos (Org. de Marcos Costa, 2011).
Sugestões de leitura:
Holanda, Maria Amélia Buarque de. “Apontamentos para cronologia de Sérgio”. Disponível em http://www.siarq.unicamp.br/sbh/biografia.html
Monteiro, Pedro Meira (Org.). Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda: correspondência. São Paulo: Companhia das Letras; Instituto de Estudos Brasileiros; Edusp, 2012.
Eugênio, João Kennedy. Ritmo espontâneo: organicismo em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. Teresina: Editora da UFPI, 2011.
Wegner, Robert. A Conquista do Oeste: a fronteira na obra de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.
Nicodemo, Thiago. Urdidura do Vivido: Visão do Paraíso e a obra de Sérgio Buarque de Holanda dos anos 1950. São Paulo: Edusp, 2008.