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José Carlos Mariátegui

Nascido em Moquégua (Peru), 14 de junho de 1894, filho de mãe mestiça de origem indígena e pai branco, de um ramo empobrecido de uma família tradicional. Aos 14 anos é obrigado a abandonar os estudos para auxiliar no sustento da família, trabalhando como auxiliar de tipógrafo, emprego que lhe abriria as portas do jornalismo. Nessa condição, atuou em diferentes órgãos da imprensa limenha. Ameaçado de prisão por seu engajamento em favor das mobilizações operário-estudantis de 1918-1919, é enviado à Europa como agente de propaganda do Peru (1919-1923), fixando-se mais tempo na Itália. Retornando ao Peru, colabora como conferencista nas Universidades Populares “González Prada”, criadas pela Federação de Estudantes do Peru (FEP). Em 1926 lança a Revista Amauta, congregando alguns dos mais destacados nomes da vanguarda política e cultural do país. Intelectual marxista, publicou dois livros em vida, La Escena Contemporánea (1925) e Siete Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana (1928).

De origem humilde, Mariátegui teve de abandonar os estudos ao final do primário, encontrando no ofício de tipógrafo o acesso ao jornalismo e ao mundo das letras. Sua politização se deu nos marcos das greves operárias e mobilizações estudantis em Lima (198-1919), quando atua em órgãos como Nuestra Época e La Razón, que apoiavam as demandas dos trabalhadores e dos estudantes. Seus posicionamentos lhe valem uma espécie de “exílio premiado”, sendo enviado à Europa como agente de propaganda do Peru.

Foi durante sua estadia na Itália, quando pôde testemunhar a fundação do Partido Comunista Italiano (PCI) (1921) e a ascensão do fascismo (1922), que Mariátegui aderiu ao marxismo. Contudo, essa adesão foi acompanhada por influências variadas como Bennedeto Croce, Piero Gobetti, Jorge Sorel, Nietzsche e Bergson, que o afastaram de uma leitura economicista e determinista do materialismo histórico (Mellis, 1978). Mais do que isso, o autor procurou empregar o método de Marx para interpretar de modo original as realidades peruana e latino-americana, afirmando que: “nuestro socialismo no será calco ni copia, sino creación heroica.” (Mariátegui, 1991, p. 128). Nesse sentido, uma influência importante foi o poeta e ensaísta Manuel González Prada (1844-1918), um dos pioneiros do indigenismo peruano. Para Mariátegui (2008, pp. 26-38), a nação peruana não se consolidaria enquanto a maioria indígena seguisse submetida às relações de servidão e ao latifúndio, legados pela colônia.

Além disso, a sobrevivência da comuna camponesa andina, o Ayllú, constituiria um elemento de socialismo autóctone que poderia ser aproveitado para a construção de uma economia socialista moderna (Mariátegui,1991, p. 128). Porém recusava a ideia de que seu país ou a América Latina poderiam seguir um caminho próprio, alternativo tanto ao capitalismo, como ao socialismo. Daí sua polêmica com seu compatriota, nacionalista e anti-imperialista, Victor Raúl Haya de La Torre (1895-1979), fundador, em 1924, da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA). Após a ruptura com seu antigo aliado (1928), Mariátegui funda o Partido Socialista do Peru (PSP), a Central General de los Trabajadores Peruanos (CGTP) e o semanário sindical Labor.

Ainda que fosse um adepto declarado da Internacional Comunista (IC), suas relações com a entidade não foram fáceis. As duas teses que enviou para a 1ª. Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, celebrada em Buenos Aires em 1929, Punto de Vista Anti-imperialista e El Problema de Las Razas en América Latina, foram objetos de duras críticas dos representantes da IC. Particularmente polêmica foi a já citada leitura de que a persistência do Ayllú seria a base para um socialismo autóctone, o que foi tido como uma tese “populista”, por sua semelhança com as teses dos narodniks russos sobre a Obstchina, comuna camponesa na Rússia (Miroshevsky, 1978).

Falece em Lima, em 16 de abril de 1930, antes de completar 36 anos. Após sua morte, seu partido, encabeçado agora por Eudócio Ravinez, muda de nome para Partido Comunista Peruano (PCP) e distancia-se do legado de seu fundador. Além dos dois livros já citados, Mariátegui deixou pronto um terceiro, Defensa del Marxismo (1930), e uma vasta obra, dispersa em artigos publicados em diversos órgãos de imprensa, a qual seria editada a partir do final da década de 1950 por seus herdeiros, por meio da Editorial Amauta S. A., por ele fundada em 1925. Atualmente, além de ser referência para uma ampla gama de organizações de esquerda no Peru, Mariátegui é tido por grande parte da bibliografia especializada como maior e mais original marxista latino-americano.

Sugestões de leitura:
Aricó, José et Alli. Mariátegui y los Orígenes del Marxismo Latinoamericano. México D. F.: Pasado y Presente, 1978.
Mariátegui, José Carlos. Dos Sonho às Coisas. Luís Bernardo Pericás (org). São Paulo: Boitempo, 2005.
Por Um Socialismo Indo-americano. Michael Löwy (org.). Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.
Siete Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana. Estudio Introductorio de Anibal Quijano. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 2008.
Textos Básicos. Anibal Quijano (org.). México d. F.: FCE, 1991.