Luiz de Aguiar Costa Pinto (1920 – 2002) nasceu em Salvador, no seio da elite tradicional baiana. Após se formar em Ciências Sociais na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, integrou, em 1942, seu quadro docente. Nos anos 1950, participou de diversos projetos coletivos de pesquisa, como os estudos da Unesco sobre relações raciais no Brasil. Foi o primeiro diretor do Centro Latino-Americano de Pesquisa em Ciências Sociais (CLAPCS) e ocupou, por quatro anos, a vice-presidência da International Sociological Association (ISA). A obra de Costa Pinto traz as marcas da Sociologia dos anos 1950, que privilegiou o tema da mudança social. Refletindo sobre os impasses do desenvolvimento, elaborou o conceito de marginalidade estrutural, com o qual procurou assinalar a tensa articulação entre modernidade e tradição que caracterizaria o processo de mudança em países periféricos como o Brasil.
Luiz de Aguiar Costa Pinto nasceu em Salvador em 6 de fevereiro de 1920, em uma família da elite baiana, proprietária de engenhos na região do Recôncavo, estabelecendo desde cedo relações com intelectuais de prestígio, como Afrânio Coutinho. Frequentou o Ginásio São Salvador. Com a morte do pai, José de Aguiar Costa Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, abandona o curso de medicina. Em 1937, instala-se com a família no Rio de Janeiro, onde passa a militar na Juventude Comunista. Em 1939, inicia o curso de Ciências Sociais na recém-criada Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (FNFi), sendo preso em seguida por sua oposição ao Estado Novo.
Na FNFi, Costa Pinto participa dos esforços de institucionalização das Ciências Sociais no Brasil empreendidos no segundo quartel do século XX. É um dos fundadores do Centro de Estudos Sociais e da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, esta última uma iniciativa do antropólogo Arthur Ramos, que cumpriu papel decisivo na trajetória do sociólogo. Após se formar, torna-se, em 1942, professor assistente do francês Jacques Lambert, titular da cadeira de Sociologia e, sob influência deste, publica seus primeiros trabalhos, a exemplo de Lutas de família no Brasil, estudo sobre as tensas relações entre público e privado no período colonial. Aproxima-se ainda do sociólogo americano Donald Pierson, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, que enxerga como aliado na busca pelo desenvolvimento da pesquisa sociológica. Em 1946, acumula o cargo de professor da Faculdade Nacional de Ciências Econômicas e, no ano seguinte, defende tese sobre o ensino da Sociologia em nível secundário, tornando-se livre-docente da FNFi. Entre 1948 e 1952, desenvolve pesquisa sobre demografia e sociologia das profissões no Instituto Mauá.
Em 1949, a convite de Arthur Ramos, Costa Pinto integra o fórum da Unesco que debateu a cientificidade do conceito de raça. Foi o início da inserção do sociólogo em redes transnacionais de cientistas sociais e em projetos coletivos de pesquisa financiados por organismos internacionais. No início dos anos 1950, estuda as relações entre negros e brancos no Rio de Janeiro como parte do Projeto Unesco de Relações Raciais, além de analisar as mudanças sociais em curso no Recôncavo baiano no âmbito do Projeto Universidade de Columbia/ Estado da Bahia. Estes trabalhos lhe renderam a publicação de O negro no Rio de Janeiro (1953) e Recôncavo: laboratório de uma experiência humana (1958). Em 1955, integra o quadro de pesquisadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e, em 1957, torna-se o primeiro diretor do Centro Latino-Americano de Pesquisa em Ciências Sociais (CLAPCS) – iniciativas que viabilizaram as atividades investigativas em Ciências Sociais no Rio de Janeiro dada a falta de perspectivas na universidade. Entre 1956 e 1959, ocupa a vice-presidência da International Sociological Association (ISA).
Costa Pinto se envolveu em inúmeras controvérsias que marcaram os primeiros passos das Ciências Sociais institucionalizadas no Brasil. Às aspirações por uma ciência axiologicamente neutra, contrapôs uma sociologia que denominava crítica, atenta aos vínculos entre ciência e sociedade e posta a serviço dos fatores de transformação social. Voltou-se contra o viés culturalista da Antropologia, apontando as limitações conceituais e metodológicas da disciplina para o estudo da vida social em contextos de modernização. Criticou, em particular, os estudos afro-brasileiros, propondo, em substituição ao enfoque etnográfico tradicional sobre as sobrevivências africanas, uma abordagem sociológica das relações raciais capaz de pôr em relevo as distintas posições que negros e brancos assumiam na sociedade brasileira, a seu ver marcada por tensões advindas de uma estrutura social cambiante, em processo de urbanização e industrialização.
Costa Pinto prestou contribuições originais às Ciências Sociais que ainda hoje merecem ser revisitadas. Em matéria de relações raciais, distanciou-se das visões sociológicas otimistas quanto à modernidade, e ponderou que o avanço do capitalismo no Brasil, alterando, ainda que de modo limitado, a distribuição da população negra na estrutura de classes, poderia agravar o racismo, ao invés de anulá-lo. Foi refletindo sobre os impasses do desenvolvimento que elaborou o principal constructo associado à sua obra, o conceito de marginalidade estrutural, com o qual procurou chamar a atenção para a dinâmica própria dos processos de mudança nas regiões subdesenvolvidas do globo. Segundo Costa Pinto, países como o Brasil caracterizavam-se pela coexistência de padrões societais tradicionais e modernos que, longe de se excluírem, mantinham-se em tensão, sem que possuíssem, cada qual, força suficiente para imprimir sua lógica ao conjunto da sociedade. Neste cenário, cabia às periferias em desenvolvimento buscar por caminhos alternativos àquele que historicamente marcara o surgimento da civilização urbano-industrial nos países capitalistas avançados.
Dos anos 1960 até o fim de sua vida, a atuação acadêmica de Costa Pinto esteve associada a universidades estrangeiras, como Berkeley (EUA) e Waterloo (Canadá). Morreu em 1o de novembro de 2002 em sua cidade natal.
Sugestões de leitura:
COSTA PINTO, Luiz de Aguiar. O negro no Rio de Janeiro: relações de raça numa sociedade em mudança. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1953.
Recôncavo: laboratório de uma experiência humana. Rio de Janeiro, Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, 1958.
Sociologia e desenvolvimento. 3a Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1970.
MAIO, Marcos Chor & VILLAS BÔAS, Glaucia. Ideais de modernidade e sociologia no Brasil: ensaios sobre Luiz de Aguiar Costa Pinto. Porto Alegre, Ed. UFRGS, 1999.
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. (1995), “As Ciências no Rio de Janeiro”, in S. Miceli (org.),
História das Ciências Sociais no Brasil, volume 2. São Paulo, Idesp/ Sumaré/ Fapesp.