O baiano Alberto Guerreiro Ramos foi um dos principais sociólogos brasileiros nas décadas de 1950 e 1960, período durante o qual pesquisou e escreveu sobre relações raciais, teoria sociológica e política nacionalista. Guerreiro trabalhou em órgãos públicos como o Departamento Nacional da Criança e o DASP, tendo também participado intensamente do Teatro Experimental do Negro e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Foi também deputado pelo Partido Trabalhista Brasileiro, e político cassado em 1964. A partir de 1966, passou a viver nos Estados Unidos, onde trabalhou na University of Southern California. Faleceu em 1982.
O sociólogo baiano Alberto Guerreiro Ramos nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA) no dia 13 de setembro de 1915. Na sua juventude, ligou-se ao integralismo na Bahia, tendo também publicado poesias (reunidas no livro “O Drama de ser Dois”, de 1937) e estudos literários em jornais e revistas. Guerreiro também trabalhou como assistente da secretaria de educação na administração de Landulfo Alves, então interventor do Estado Novo na Bahia.
Em 1939, mudou-se para o Rio de Janeiro, nutrindo fortes ambições poético-literárias. Formou-se em Ciências Sociais em 1942, e em Direito em 1943, tendo realizado ambos os cursos na Universidade do Brasil. Com o auxílio de San Tiago Dantas, advogado e professor da Faculdade Nacional de Direito, obteve um posto no Departamento Nacional da Criança, órgão recém-criado. No mesmo ano, entrou no Departamento de Administração do Serviço Público, sendo efetivado em 1945. Em 1944, Guerreiro Ramos participa da criação do Teatro Experimental do Negro, e desenvolveu forte ligação com Abdias do Nascimento e outros intelectuais que questionavam o racismo no Brasil. Escrevia de forma regular para o jornal “Quilombo”, e em 1949 ajudou a criar o Museu do Negro e o Instituto Nacional do Negro.
Desde o final do Estado Novo, Guerreiro Ramos estabelecera laços com as elites vinculadas ao trabalhismo, galgando posições no DASP e juntando-se à Assessoria Econômica da Casa Civil do governo de Getulio Vargas (1951-1954). A partir de 1952, reforçou seus laços com esses grupos ao se juntar à Escola Brasileira de Administração Pública, criada no âmbito da Fundação Getulio Vargas. Entre 1955 e 1958, Guerreiro Ramos trabalhou também no Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o ISEB. Essa instituição congregava intelectuais com diferentes formações profissionais e perfis disciplinares, mas unidos em torno do pensamento nacionalista. Foi também em 1958 que publicou sua mais importante obra, intitulada “A Redução Sociológica”.
Entre 1958 e 1964 Guerreiro Ramos desenvolveu militância política trabalhista. Foi eleito para o Diretório Nacional do PTB em 1959 e em 1962 lançou-se candidato a deputado, tornando-se suplente de Leonel Brizola. Assumiu em 1963, permanecendo na função até abril de 1964, quando sofre a cassação de seu mandato. Entre 1964 e 1966, em meio ao crescente autoritarismo, Guerreiro Ramos encontra abrigo na FGV, até ter que deixar o país de forma definitiva, encontrando asilo nos Estados Unidos, onde trabalhou até o final de sua vida na University of Southern California (USC).
A obra de Guerreiro Ramos é marcada pela crítica ao pensamento imitativo que caracterizaria a sociologia brasileira, segundo ele propensa à importação acrítica de ideias e teorias europeias e norte-americanas. Guerreiro Ramos utilizou-se do conceito de redução sociológica para descrever o processo pelo qual os cientistas sociais do Terceiro Mundo podem apropriar-se de forma criativa dessas teorias ao evidenciarem os seus contextos históricos de produção. Essa foi sua grande contribuição para o pensamento social brasileiro. No campo da teoria da administração, Guerreiro Ramos também foi muito influente, desenvolvendo uma teoria das delimitações dos sistemas sociais que buscava superar o predomínio da razão instrumental em detrimento da razão substantiva nas organizações humanas.
Sugestões de leitura:
Ramos, Alberto Guerreiro. A Redução Sociológica. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
Ramos, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996.
Ramos, Alberto Guerreiro Ramos. Administração e Estratégia do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: FGV, 1966.
Oliveira, Lúcia Lippi. A Sociologia do Guerreiro. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
Azevedo, Aristôn. A Sociologia Antropocêntrica de Alberto Guerreiro Ramos. Tese de doutoramento apresentada na Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.