Celso Monteiro Furtado (26 de julho de 1920, Pombal/PB – 20 de novembro de 2004, Rio de Janeiro). Considerado um dos intérpretes do Brasil, formou-se em direito pela Faculdade Nacional de Direito (1944) e doutorou-se em economia pela Universidade de Paris (1948). Suas maiores contribuições intelectuais para o pensamento social brasileiro são a elaboração da Teoria Política do Subdesenvolvimento e da tese sobre a formação econômica brasileira. Publicou mais de 30 livros, com destaque para Formação Econômica do Brasil (1959), A Pré-Revolução Brasileira (1962), Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico (1967), O mito do desenvolvimento econômico (1974). Foi ator fundamental na construção e condução de políticas desenvolvimentistas aplicadas no Brasil (Plano de Metas, SUDENE, BNDE, Plano Trienal) defendendo a visão de desenvolvimento com bem-estar social. Foi economista da CEPAL e professor e pesquisador de importantes universidades internacionais.
Celso Furtado nasce no sertão paraibano, fazendo sua formação educacional no Liceu Paraibano e depois no Ginásio Pernambucano. Muda-se em 1939 para o Rio de Janeiro, ingressando em 1940 na Faculdade Nacional de Direito. Em 1943 é aprovado em concurso do DASP, instituição governamental na formação de quadros para a administração pública e inovadora no tratamento da questão pública e de seu diagnóstico no Brasil. Nesse período toma contato com as obras de Weber, Tönnies, Simmel, Schumpeter e Mannheim – este último será autor fundamental na sua compreensão do papel dos intelectuais e do destino social da produção do conhecimento.
Em 1945 viaja a Itália com a FEB (Força Expedicionária Brasileira). Em seu retorno faz a opção pela economia e completa sua formação na Europa com o trabalho de doutorado L’économie coloniale brésilienne, sob orientação de Maurice Byé, na Universidade de Paris-Sorbonne, da qual seria depois professor por mais de 20 anos. Em 1948 integra o grupo de economistas da Fundação Getúlio Vargas e passa a colaborar ativamente com a Revista Conjuntura Econômica. Em 1949 ingressa na recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), nela permanecendo até 1958. Com sua nomeação para o cargo de Diretor da Divisão de Desenvolvimento, por Raúl Prebisch, inicia o ciclo de missões na Argentina, Costa Rica, Venezuela, no Equador e no Peru, que o habilitariam a produzir uma refinada perspectiva analítica sobre o continente, depois transformada em Formação Econômica da América Latina (1969). Em 1953 preside o Grupo Misto CEPAL-BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento), cujo texto Esboço de um programa de desenvolvimento (1955-1962) embasará o Plano de Metas do governo Kubitscheck. Será o idealizador e articulador da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e seu primeiro superintendente.
Nas décadas de 1950/1960 Furtado travará contato e diálogo intelectual com Rául Prebisch (1901-1986), Vassili Leontieff (1906-1999), Walt Rostow (1916-2003), Ragnar Nurkse (1907-1959), Theodor Schultz (1902-1998), Juan Noyola Vasquez (1922-1962), José Medina Echavarría (1903-1977) e Osvaldo Sunkel (1919). Em 1954 são publicados o artigo “Características gerais da economia brasileira” e o livro A Economia Brasileira.
Com a edição do Ato Institucional nº 1, durante a Ditadura Militar, Furtado é um dos cassados na primeira lista. Fora do Brasil, liga-se novamente à Cepal através do Instituto Latino-Americano para Estudos de Desenvolvimento (ILPES). A partir de 1964 iniciará carreira internacional de pesquisador e docente em prestigiosas universidades como Yale, American University, Columbia, Cambridge, Sorbonne, e como diretor de pesquisa da École de Hautes Études en Sciences Sociales. Em seu retorno ao Brasil assume novas atividades, com destaque para sua participação no Anteprojeto da Constituição de 1988, elaborado pela Comissão Affonso Arinos (1985-1986), e como ministro do Ministério da Cultura (1986-1988) do governo José Sarney, elaborou a primeira legislação brasileira de incentivos fiscais à cultura.
Furtado publicará textos fundamentais para a compreensão da formação do subdesenvolvimento brasileiro e latino-americano e de estratégias para sua superação: Desenvolvimento e subdesenvolvimento (1961), Dialética do desenvolvimento (1964), Análise do “modelo” brasileiro (1972), O mito do desenvolvimento econômico (1974), Criatividade e dependência na civilização industrial (1978), Brasil, a construção interrompida (1992), O capitalismo global (1997), O longo amanhecer (1999). Publica também uma valiosa síntese memorialística do período a partir de extensa obra biográfica: A fantasia Organizada (1985), A Fantasia Desfeita (1989), Ares do Mundo (1991) e Obra autobiográfica, 3 volumes (1997).
Em 1997 Furtado é eleito para a Academia Brasileira de Letras e em 2003 para a Academia Brasileira de Ciências. Em 1998 participa da criação da rede que leva seu nome, Red Celso Furtado de Estudos do Desenvolvimento, que congrega pesquisadores do México, França, Brasil, Espanha, Itália e Portugal. No Brasil foi criado o Centro Internacional Celso Furtado (2005), instituição ativa no campo das múltiplas faces do desenvolvimento.
Sugestões de Leitura:
Bielschowsky, Ricardo. Pensamento Econômico brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1988.
Bresser-Pereira, Luiz Carlos; Rego, José Márcio (orgs). A grande esperança em Celso Furtado. São Paulo: Editora 34, 2001.
Corsi, Francisco Luiz; Camargo, José Marangoni. Celso Furtado: os desafios do desenvolvimento. São Paulo: Cultura Acadêmica, Unesp, 2010.
Lima, Marcos Costa; David, Maurício Dias, (Orgs.) A atualidade do pensamento de Celso Furtado. Leste Vila Nova: Verbena, 2008.
Mallorquin, Carlos. Celso Furtado: um retrato intelectual. São Paulo: Xamã; Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.