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Sílvio Romero

Sílvio Romero (Lagarto/SE, 21.4.1851 – Rio de Janeiro, 18.7.1914) foi um polígrafo, político e professor, de enorme repercussão intelectual na virada do Império para a República, por sua defesa de um pensamento “autonômico” – isto é, verdadeiramente nacional –, baseado na ciência, e sua crítica à sensibilidade romântica na arte e à metafísica na filosofia. Integrante da Escola do Recife (termo que ajudou a popularizar), sob a reconhecida liderança de Tobias Barreto, Romero foi um polemista ardoroso, dono de uma retórica grandiloquente e caudalosa, com que lutava pela reforma do pensamento orientada por um cientificismo inspirado pelo evolucionismo de Herbert Spencer e pela metodologia sociológica de Frédéric Le Play

De nome completo Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero, era filho do comerciante português André Ramos Romero com Maria Joaquina Vasconcelos da Silveira. Cresceu na então pequena Lagarto e em sua zona rural, em que os avós maternos possuíam engenho de açúcar, afetado pela crise desse produto à época. A experiência sertaneja aparece em sua obra no interesse pela cultura popular, em que Romero identificaria a essência da nacionalidade. Aos 12 anos, foi para o Rio de Janeiro fazer os preparatórios para a Faculdade de Direito do Recife, em que ingressou em 1868. Ali conviveu com Tobias Barreto, doze anos mais velho e defensor de uma linhagem intelectual germânica em oposição ao francesismo reinante. Também foi contemporâneo de Joaquim Nabuco, Araripe Júnior e Capistrano de Abreu, entre outros que viriam a se destacar na cena intelectual do fim do século. Atraído pela política, ainda no Império foi deputado provincial por Estância, em seu estado natal, e já na República deputado federal no governo de Campos Sales, sendo nomeado relator-geral do Código Civil. Desde muito jovem, teve intensa atividade jornalística, especialmente pela crítica literária e pela produção poética. Nos anos 1880, já radicado no Rio de Janeiro, tornou-se professor de filosofia do Colégio Pedro II e publicou algumas de suas principais obras etnográficas, como Cantos populares do Brasil (1883), Contos populares do Brasil (1885) e Estudos sobre a poesia popular do Brasil (1888). Neste último ano, saiu a lume pela primeira vez sua obra magna, História da literatura brasileira, que, segundo Antonio Dimas (2009: p. 79), é mais “uma história da cultura brasileira, sob uma ótica racial e carregada de demasias”. Em 1897, foi convidado a integrar o grupo fundador da Academia Brasileira de Letras. No mesmo ano, publicou crítica severa a Machado de Assis, que considerava pouco brasileiro, resultando numa polêmica com Lafayette Rodrigues Pereira. Também combateu José Veríssimo, crítico que valorizava a fatura literária, enquanto Romero dava maior importância ao embate com a realidade nacional. A República ainda o viu como professor de filosofia do direito nas duas faculdades do Rio de Janeiro. Sílvio Romero faleceu nesta cidade aos 63 anos, prestigiado e temido.

Para o pensamento social no Brasil, Sílvio Romero representou um momento de inflexão, no século XIX, em que a nação deixou de ser algo a ser construído por intelectuais e artistas, em continuidade mesmo com sua origem ibérica e ocidental, ainda que em terras americanas (o Extremo Ocidente), para ser por eles revelada e potencializada pelo conhecimento da sociedade e pela depuração dos limites raciais e ambientais a ela impostos. Para tanto, era necessário um novo intelectual, que deixasse de produzir apenas um pastiche da cultura europeia e reconhecesse na alma popular o substrato da nação. Romero completou, de certa forma, o que o Romantismo brasileiro foi incapaz de fazer: a equação entre terra, povo e nação, o que só se tornou possível quando a ideia da abolição da escravatura ganhou força. No centro de suas preocupações estava o fenômeno da mestiçagem, que, de pura negatividade, tornou-se ambivalente: limite e potência da sociedade brasileira. Com ele, preparava-se o terreno para pensamentos tão díspares como os de Gilberto Freyre e de Mário de Andrade. E com ele se dava início à busca obsessiva do século XX por uma identidade nacional.

Sugestões de leitura:
Alonso, Angela. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Candido, Antonio (org.). Sílvio Romero: teoria, crítica e história literária. São Paulo: Edusp, 1978.
Dimas, Antonio. O turbulento e fecundo Sílvio Romero. In André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz (orgs.). Um enigma chamado Brasil: 29 intérpretes e um país. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 74-87.
Mota, Maria Aparecida Resende. Sílvio Romero: dilemas e combates no Brasil da virada do século XX. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
Ventura, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.